segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ABELHÕES SENTEM CAMPOS ELÉCTRICOS DAS FLORES

Crónica primeiramente publicada na imprensa regional.


Abraço o arco-íris com o olhar visível.

A separação das componentes do espectro da luz solar, ao atravessarem as gotas de água, imprime na minha retina sensações de uma paleta de cores que o meu cérebro retém e compara com outras e anteriores sensações coloridas do mundo em que vivo.

A cada nuance colorida o meu cérebro associa um nome e mesmo outras sensações de alegria, esperança, espanto, confiança, frio ou calor. As cores são elementos da minha comunicação com o mundo que me rodeia, têm um significado modulado pela cultura ocidental em que as aprendi.

Mas há muito mais radiação para além da pequena região da luz que nos impressiona visivelmente no espectro da luz solar. Por exemplo, não conseguimos ver as radiações ultravioletas nem as infravermelhas. Também não conseguimos ver as radiofrequências nem as micro-ondas, e assim por adiante.

Mas outros seres, que coabitam connosco este planeta, conseguem percepcionar a luz para além da região do espectro visível. Por exemplo, as abelhas conseguem ver cores ultra-violetas. Este facto levou o biólogo evolucionista Richard Dawkins a referir que para os insectos os campos de flores são “jardins no ultravioleta”. Se para a maioria de nós as pétalas do mal-me-quer são uniformemente brancas ou amarelas, para uma abelha há nelas uma outra riqueza de padrões coloridos que nós não conseguimos discernir.

Vísível vs. UV

(É possível viver as diferenças que a radiação ultra-violeta causam no aspecto das flores na exposição permanente do Museu da Ciência da Universidadede Coimbra.)

É o espelho da co-evolução entre as plantas com flor e os insectos que as polinizam. Ao longo de milhões de anos a evolução natural consertou as adaptações ajustando-as para uma comunicação mais eficaz e rica entre ambos.

Mas a Natureza não para de nos espantar ou pelo menos o conhecimento que adquirimos sobre ela. Num trabalho publicado na última edição da revista Science  mostra-se que pelo menos um dado tipo de abelhões (Bombus terrestris) é sensível à carga eléctrica, (ou melhor ao campo eléctrico) de uma dada flor. E que esta carga eléctrica da corola parece estar associada com o conteúdo em pólen que essa flor possui num dado momento. Os investigadores descobriram que, depois de uma flor ser visitada por uma abelhão, que lhe retira pólen, a sua carga eléctrica altera-se e esta mudança permanece durante alguns minutos. Assim, um outro abelhão, ao se aproximar dessa mesma flor, apercebe-se, provavelmente electrostaticamente, que o conteúdo em pólen é reduzido nesta.


Talvez experiencie a sensação de cabelos ou pelos em pé que nós próprios sentimos quando aproximamos, por exemplo, um braço de um superfície carregada electrostaticamente.

Apesar de toda beleza cromática que apresenta para atrair o insecto, a flor não faz “publicidade enganosa” e comunica ao insecto que não vale a pena, naquele momento, ele nela poisar se ao pólen vem. O abelhão agradece, pois, como em outras actividades, nesta o tempo também é precioso. Para a flor, como também em outros casos, é importante dizer a verdade para que o insecto a ela volte noutra altura de maior abundância polínica.

Para uma abelha um campo de flores não é só um jardim no ultravioleta. Este também está repleto de sensações electroestáticas que tornam a comunicação mais efectiva e rica de significados.

António Piedade

6 comentários:

José Batista disse...

Que beleza, para os sentidos, o intelecto e o afecto. E que espanto!

Por isso a Natureza me parece complexamente bela e absolutamente extraordinária para poder ser simplesmente obra do acaso. Ou realmente a matéria tem propriedades intrínsecas que incluem algum tipo de "inteligência" ou deve haver algum "Deus", pelo menos à maneira de Einstein.

Pequenino que eu sou!

باز راس الوهابية وفتواه في جواز الصمعولة اليهود. اار الازعيم-O FLUVIÁRIO NO DESERTO disse...

Bolas zé não tens um manual duma editora qualquer pra fazer?
Nã te reformas ao menos?
Olha ca lista de espera já vai nos 3 mil e picos

sentidos intelecto e afectos

boa compartimentação neuronal-sensorial

receptores biológicos capacitados para a percepção de campos electromagnéticos gerados por diferenças de cargas
tal como os fotoreceptores vários que apanham cada um os seus fotões zinhos é une chose ahora poesia electrostática em poeira precipitada electrostaticamente?

ficava melhor que surfaces et sensaciones electrostáticas

sensacione é tão sen cio na lista bué de relativo

eu cá tou com calor apesar de tar frio...

José Batista disse...

Ó R. Prima

Eu disse que sou pequenino.
Quem tem calma pode ir ao rio ou à praia, pela sombra, e nadar ou não... Sempre é uma forma de espairecer e de... arrefecer. Em lista de espera ou fora dela...
Com ou sem manual. Que espero que não me peçam.

Obrigado.

Anónimo disse...

A natureza é e sempre foi maravilhosa. Pena o homem a ter quase destruído.
Abelhões, abelhas e zangões, a vida na Terra é impossível sem esses seres maravilhosos.
Nem 7 mil milhões de homens, (não faço ideia quem os contou) poderiam fazer a polinização sem ajuda desses seres pequeninos mais grandemente úteis.

Anónimo disse...

Não admira nada, é por isso que a pandemia wi-fi e de electrosmog faz vítimas entre os insectos e não só, nem tudo o que é mau doí

Cláudia da Silva Tomazi disse...

É de optima qualidade.

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