segunda-feira, 26 de julho de 2010

GIRA-TOALHA!


Nova crónica de António Piedade saída n'"O Despertar":

Se observarmos, neste tempo balnear, as pessoas deitadas numa praia qualquer, constatamos que estão, quase sempre, a tentar obter a melhor orientação para uma maior exposição do seu corpo ao Sol. E fazem-no num sincronismo colectivo proporcional e modelado à preguiça de cada um. Verificamos que as pessoas tendem a manterem-se alinhadas com linhas imaginárias que convergem perpendicularmente ao plano do disco solar.

Que trabalheira estar sempre a rodar a toalha! Se tivéssemos um dispositivo que a sincronizasse com a velocidade angular média aparente do Sol no firmamento (aparente, porque, na realidade, é a Terra que está a rodar), não teríamos este desconforto todo do levantar, colocar a toalha na orientação seguinte do ponteiro solar, voltar a deitar, verificar que ainda não é essa a direcção que nos ilumina a maior parte da superfície corporal, voltar a levantar… enfim!

Com o conhecimento tecnológico que hoje possuímos não nos seria difícil construir uns suportes mecânicos, com areia por cima, que girassem de forma a garantir a exposição desejada por cada um. Uns sensores de intensidade luminosa, estrategicamente colocados, ligados a um pequeno computador, servo de meia dúzia de instruções contendo em base de dados a equação do tempo de modo a calcular a velocidade angular média aparente do Sol à latitude e dia do ano, comandariam alguns motores, silenciosos, que manteriam a plataforma de férias sempre direccionada para o astro-rei! Não seria necessária qualquer fonte de energia terrena, nem cabos, uma vez que discretos painéis solares (feitos com os polímeros de última geração impregnados com a melhor de sílica da areia local) bordariam a corola do “gira-toalha”. Nas intermitências, a energia radiante que sobejasse carregaria um conjunto de pequenas baterias. Estas, por sua vez, poderiam alimentar todo o sistema se porventura uma ousada nuvem cobrisse o Sol. Ou então, permitir uma versão de praia ao luar para os noctívagos balneares.

Também interessante, seria tecermos a própria toalha com essa tecnologia incorporada nanotecnologicamente em microfibras. “Cozido” a ela, um sistema de tracção mecânica à base de micro lagartas, ajustáveis à fineza do areal, encarregar-se-ia da movimentação.

“E porque é que não levamos uns girassóis e nos deitamos em cima deles”, diz-me um menino a brincar na areia, divertido com a sua genuína e genial simplicidade. Nem mais. Os girassóis já trazem tudo integrado e com um design ecológico! Além disso, como são naturais, são biodegradáveis. Mas, teriam de ser uns girassóis capazes de nos suportar e não sabemos se não seríamos tóxicos para eles uma vez deitados em cima deles!

Já agora e a propósito, como é que os girassóis seguem o movimento solar?

A foto-orientação de plantas como o girassol, em resposta à luz solar ou heliotropismo, é desencadeada pela desigual intensidade da radiação que incide em diferentes partes da planta. Em geral, as células da planta mais iluminadas sofrem uma alteração no seu conteúdo em água, resultado da activação/desactivação de um conjunto de vias de sinalização bioquímicas que envolvem uma hormona vegetal designada por auxina. Esta é responsável pelo crescimento e movimento diferenciais de partes diferentes da planta. Sabemos hoje que também ocorre uma movimentação dos cloroplastos (organelos responsáveis pela fotossíntese) nas células vegetais, em resposta à maior ou menor incidência da luz. No conjunto, verifica-se que as células mais expostas à luz reduzem o seu tamanho enquanto as que estão mais à sombra aumentam o seu volume interno. Isto ocorre reversivelmente e provoca uma rotação ou faz com que a haste ou caule se encurve.

Assim, do balanço luz/sombra – movimento aparente do Sol, a resposta das células vegetais é o de tirar o maior proveito da luz solar incidente… sem apanhar escaldões nem desenvolver cancro!

António Piedade

3 comentários:

ana disse...

O seu texto é interessante.
O caminho que percorreu para explicar, de uma forma simples, o movimento do girassol é genial.

Mas no meio disto tudo esqueceu-se de um sentido, o do cheiro da maresia.

(Sorriso) Espero que entenda esta intervenção.
Parabéns pelo texto.

António Piedade disse...

De facto, tenho esquecido o olfacto. Que sonhos futuros desperta a maresia!?

Obrigado

António Piedade

Anónimo disse...

GIRA-SÓIS

Que têm os girassóis de especial
que buscam sempre o sol, seja onde for
que ele se encontre, como o meu amor
a mim me atrai com pertinácia igual?

Agora sei como é que funciona
dos girassóis a sua rotação
subordinada à respectiva zona
em que decorre a iluminação.

O que decerto nunca saberei
é qual a regra, o pressuposto, a lei
que para ti me atrai continuamente.

Por mais que faça, amor, na minha mente
não descortino em bases científicas
as objectivas causas específicas!

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